A MULHER QUE EU VEJO

Só eu vejo a mulher que vejo

Só eu vejo como eu a vejo

Só eu vejo

seus mínimos detalhes

seus corpetes sem alças

seus ombros amostrados

como se me convidassem

para um beijo molhado

Só eu a vejo

em seus pés descalçados

a mais perfeita imitação

de uma Vênus quase imperfeita

Só eu a vejo

nas minhas mornas tardes de domingo

nos meus velhos e novos porta-retratos

nos meus mais íntimos sonhos não revelados

nas cartas de Tarot que não consultei

nas inquietações que sua ausência me faz

no pé-direito dos meus afetos

no cofre onde guardo meus desejos realizados

no amanhã em que ainda não cheguei

nas líquidas lembranças que correm nas veias

e nas linhas que costuraram os meus retalhos

Só eu vejo a mulher que vejo

só eu vejo como eu a vejo

e mais ninguém

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 25/07/2024
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