A MULHER QUE EU VEJO
Só eu vejo a mulher que vejo
Só eu vejo como eu a vejo
Só eu vejo
seus mínimos detalhes
seus corpetes sem alças
seus ombros amostrados
como se me convidassem
para um beijo molhado
Só eu a vejo
em seus pés descalçados
a mais perfeita imitação
de uma Vênus quase imperfeita
Só eu a vejo
nas minhas mornas tardes de domingo
nos meus velhos e novos porta-retratos
nos meus mais íntimos sonhos não revelados
nas cartas de Tarot que não consultei
nas inquietações que sua ausência me faz
no pé-direito dos meus afetos
no cofre onde guardo meus desejos realizados
no amanhã em que ainda não cheguei
nas líquidas lembranças que correm nas veias
e nas linhas que costuraram os meus retalhos
Só eu vejo a mulher que vejo
só eu vejo como eu a vejo
e mais ninguém