ACERCA DE UM RECORTE (POEMEUTEUZINHO DE QUINTA À LUZ NA QUARTA)

Não importa o dia em que chegaste,

"Poemeuzinho" de uma quinta qualquer,

Transcendes o tempo, em sentimentos te embastes,

No coração, teu lugar fizeste com esmero e prazer.

Teces com delicadeza memórias e afetos,

Força de um amor puro, maternal,

Evocas doçura e saudades em duetos,

Num misto tão humano, tão imortal.

Cada verso desenha o amor incondicional,

Um retrato de mães em suas infinitas facetas,

"Poemeuzinho", espelho de um amor sem igual,

Revelando a beleza e as complexidades completas.

Ah, teu doce "poemeuzinho",

Um universo de sentimentos a desaguar.

É belo, é intenso, é um caminho,

Uma ode às mães, que abrilhanta o amar.

09.05.2024, EM RESPOSTA AO POEMA PEQUENO RECORTE MATERNO DE José Maria Madureira

A quinta se me chegou escura, alegretristemente, talvez mais alegre, mas com matizes nostálgicas, com sabores apertados na boca banguela da mínima manhã, com mãos trêmulas de indecisão, com o alindamento dos primeiros vocábulos já na pulsação ligeira do dia. Pusera-me, desde o ainda escuro, a tatear as teclas negras do teclado, tamborilando lembranças, tecendo esta colcha de retalhos com linhas previsíveis em um tear de memórias. Minha mãe, em flashes, foi se reeditando em fragmentos frágeis, em diferentes temporalidades distantes, reconstruindo-se a esmo em dias de saudade. O poemeuzinho se me veio cheio de rupturas, arrítmico, em cadência caótica, tropeçando-se e se alevantando a cada verso, mas cheio de uma doçura que há muito não a sentia. Eita, que minha saudade vai daqui para mais de Conceição do Mato Dentro, Nossinhora!

(Este poemeuzinho vai para todas as mães e, também, para quem não as tem, mas as têm vívidas na memória).

Pequeno recorte materno

Minha mãe sempre fora um pouco de tudo!

Noutras horas,

era mais que um tudo,

e em todas horas,

era a minha mãe.

Mamãe era choradeira,

que só vendo!

Bastava um caso comovente,

um falecimento na família,

uma despedida de um filho...

Pronto, ela se derretia.

Como era doce, minha mãe!

Mãe era enérgica por demais!

Não passava pano,

não engolia sapos,

não carregava desaforos.

Se precisasse,

saía nos sopapos.

Sua doçura, às vezes, metia-me medo!

Mamãe era protetora, caprichosa, esbaforida, sem brida!

Ansiava por tudo no lugar,

tinha a assepsia irreparável do lar,

carregava sua ninhada bem passada,

alinhada e educada,

exceto este algum, que ela atarraxava,

punha nos eixos, com jeito,

com enérgica mesura,

sempre com maiúscula doçura!

A mãe era madrugadeira!

Ainda fazendo escuro,

café e quitanda já estavam na mesa,

as panelas já cantavam temperos,

galinhas e porcos tratados,

fazia-nos todos obreiros.

Não sei por quê, mesmo assim, via nela tamanha doçura!

Mamãe era divertida!

Arteira, gostava do mal feito:

uma titubeada,

uma piada,

o tombo na calçada,

sua rizada cortava o ar

em solavancos de alegria.

Na realidade, ela era uma doce magia!

A Senhora minha mamãe não era letrada,

porém vivia acesa,

ouvinte atenta,

sedenta por resoluções,

colo espaçoso,

dava pitos e conselhos,

gostava de compartilhamentos,

dividia responsabilidades e sentimentos.

Sua doçura durava todos os momentos!

Minha deliciosa mãe era amiga todo o tempo!

Era acessível sem comedimentos,

tinha ciúmes até do vento,

castigava com carinho,

compreendia os eventos,

não direcionava,

deixava-me ensinamentos.

Tinha a doçura de um vendaval na florada do tempo!

Outro dia,

mas já bem distante,

ela se foi,

porém não se foram seus ensinamentos,

sua presença é permanente,

deixando-me esta comprida saudade,

sua doçura, seu perfume, sua voz,

que não se dissipam nem com o vento.

Que saudade plural tenho de minha mãe!

Zemaria Madureira