Jardineiro Desempregado
Eu hoje sou o jardineiro da minh'alma, porém
Recebo os cortes incisivos dos ventos,
De tantos gumes. Abstenho-me do absinto, gélido, colhido dos cumes
Desses morros de coqueiro e palma
E mente, 'ssa mente impura cheia de intentos
Pois os dentes afiados dos ventos
Inda botam-se a inflar meus
medos. Redemoinha p'ra agregar os
Tantos fragmentos.
Até que a pressão demasiada, transborde os gases inflamáveis
Sopra, e diz o vento: "Ei, acende esse cigarro! Fuma,
e devenda-te no escarro!"
Faço-o, e num chumaço de cabelo
Caído da cabeça esvaziada
Planta-se o fogo, fruto de mérito
Chama transmutante, ateia fogo brando
Aos meus pelos. Verticalizados,
Pois o arrepio que chamusca minha coluna
Toma forma de bruma, p'ra incentivar
o incêndio. Eu absorvo o soco
Certeiro dos receios canalizados.
Lágrimas são a arte rupestre dos muros
Vandalizados.
Tinta cinza, em pincéis inabaláveis
Pintam minhas expressões surrealistas
Nessa face de jovem Expressionista.
Todavia, hoje, como maná caído do céu
Desce o orgânico véu, o adubo vertiginoso p'ra brotar-me
Ideias imaculadas de gozo.
Pr'assim rabiscar na cara um sorriso novo.