Jardineiro Desempregado

Eu hoje sou o jardineiro da minh'alma, porém

Recebo os cortes incisivos dos ventos,

De tantos gumes. Abstenho-me do absinto, gélido, colhido dos cumes

Desses morros de coqueiro e palma

E mente, 'ssa mente impura cheia de intentos

Pois os dentes afiados dos ventos

Inda botam-se a inflar meus

medos. Redemoinha p'ra agregar os

Tantos fragmentos.

Até que a pressão demasiada, transborde os gases inflamáveis

Sopra, e diz o vento: "Ei, acende esse cigarro! Fuma,

e devenda-te no escarro!"

Faço-o, e num chumaço de cabelo

Caído da cabeça esvaziada

Planta-se o fogo, fruto de mérito

Chama transmutante, ateia fogo brando

Aos meus pelos. Verticalizados,

Pois o arrepio que chamusca minha coluna

Toma forma de bruma, p'ra incentivar

o incêndio. Eu absorvo o soco

Certeiro dos receios canalizados.

Lágrimas são a arte rupestre dos muros

Vandalizados.

Tinta cinza, em pincéis inabaláveis

Pintam minhas expressões surrealistas

Nessa face de jovem Expressionista.

Todavia, hoje, como maná caído do céu

Desce o orgânico véu, o adubo vertiginoso p'ra brotar-me

Ideias imaculadas de gozo.

Pr'assim rabiscar na cara um sorriso novo.

Rafael Arcangelo Vettori
Enviado por Rafael Arcangelo Vettori em 21/07/2024
Código do texto: T8111619
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