Armadilha

Os muros calam

As armadilhas estão sempre prontas

E as chamam por eufemismos

Cultura

Ideologia

Sistema econômico

E não como

Venenos

Drogas

Arapucas...

E os muros são altos demais

E os impostos

E os juros

E as desculpas

Para não acabar de uma vez com a pobreza

Com a ignorância

Com a exploração

E o que se vê são os pés no chão frio

E as paredes muito próximas

Como calabouços

De desigualdades

Arames farpados

Silêncio

A tv foi feita para nos distrair

E a internet, e a rádio...

Os jornais dizem o que os poderosos querem ouvir

Os que se revoltam estão divididos e isolados

Um espectro inteiro os separa

Como inimigos declarados

Povo contra povo

Mas as armadilhas não discriminam

Ninguém nasceu para viver espremido

Apressado pela penúria

Pela humilhação cotidiana

Não é como o sol que se põe

Nem como a lua que se levanta

Não é como os sonhos que nunca dormem

Nem como a esperança

E não é uma

São muitas armadilhas

Até mesmo de onde nem se pensa

De todos os lados

Estamos acuados

Como sempre

As mesmas arenas romanas

Os mesmos imperadores, reis do mundo

Os mesmos eufemismos

Os dicionários enriquecem junto com os que já são muito ricos

São os nossos Reis Midas

Que nos cegam com a sua doença

Com o seu coração mórbido

Seus pulsos, relógios de ouro

Tentações diabólicas

Mãos que manipulam e transformam

Somos massas

Marionetes, presas

Peças que mudam de posição

Como se não tivéssemos vida

Como se não quiséssemos realmente viver

Sem essa eterna promessa

Sem essa falsa libertação