O ANIVERSÁRIO DA PAREDE
É minha a letra impúbere na tua pele fria,
Tão desbotada quanto a mensagem escrita à hidrocor.
Onde estava eu com a cabeça enquanto escrevia
Tantas tolices sinceras que hoje me fazem supor
Que eu era muito maior antes do que agora?
Tantos anos passados de laranja a amarelo,
Semitransparente, ameaçado pelas rachaduras.
Associei minha juventude – impávido e belo –
À sua pintura recente sobre velhas manchas escuras,
E agora não sei quem sou.
Hoje é teu dia, não sei o meu.
Apaguei em mim o que ficou na argamassa.
É presente o prego cravado que alguém te deu?
Ou é o quadro pendurado a certeza de que a dor passa
Como os anos todos debaixo de tanta cal?