ame com delicadeza

Tu, noiva enternecedora, suavidade nas bordas,

Não retalhe minha toalha de mesa, ou

As pontas do lençol, me lance tua noite com

O carinho de quem já se sabe, derrama-me sobre a vida

Como quem beija o amado finalmente conquistado,

Não se aborreça se na profundidade não encontre

O piso, ou apenas o colapso de uma vida que lhe receba

À porta dos aposentos, ame assim mesmo a casa encontrada,

Como ele se apresenta, descalabro e abandono,

Os tijolos à mostra, o vestuário mal passado e a tinta a se tornar pó

diante do sol que já adentrou à sala, ame com cuidado,

Como quem quebra ou encontra o que se quebrou, como quem

Adormece ao carinho de uma mãe amorosa, ame como quem carne

E não alegoria do pensamento, como quem dói e sabe da dor de todo

Mortal, ainda que a ignore se escondendo fora do continente combalido,

E não sufoque o que ainda está verde ou que em seu veio mais secreto,

a farpa de madeira e polvilho ainda não se fez arame, ame como quem

Dorme e que tem medo de acordar, ou ser acordado, ame como quem

Não sabe o estribilho e teima na música que a lira não soube entoar.