O conto de um pescador

Armadura de carne e osso

Propulsores falhos, alongados

Em músculos estáticos

A hélice de sua cabeça perfurando estrelas

Ossos do ofício, implodindo

Coluna vertebral e crânio afora

Você já não pensa, seus neurônios

Uma orquestra de tambores desordenada

O enjoo das papilas, um exultar

De pedestres atravessando o estômago

Jornada que não termina, apenas começa

Nas águas que lavam os túneis de sua anatomia

Águas que vivem, revivem, levam

Seu corpo, submarino adaptado

Sem luz, sem nada

Às profundezas do paraíso aquático

Você desce, não se abatendo

Entre suspiros o corpo se debatendo

Peixes, algas, ancestrais de mesmo propósito

Mordiscam as suas costas de antigo nadador

Descansam agora os brônquios, ainda em expansão

O coração imóvel que não para de ressoar

O anzol brilhando em sua mão, continuamente em espera

No túmulo que você explorou em alto mar