A GENTE VAI MORRER
A gente vai morrer
Cardoso I.
A gente vai morrer,
A casa vai ficar,
Os amigos irão chorar,
Os amores seguirão para outros braços,
O cachorro terá outro dono,
A música preferida deixará de ser tocada.
A gente vai morrer,
As nossas roupas não irão conosco,
Nossas joias perderão o valor,
Nossa refeição vai perder sabor,
Porque em outro paladar não se encaixa.
A gente vai morrer,
O diploma vai ficar na gaveta,
Cargos serão substituídos,
Carros não terão serventia,
Nosso lar vai ficar mais vazio,
Poucas memórias, algumas fotografias.
A gente vai morrer e nossos filhos irão sentir por um tempo,
A recordação de lindos momentos,
Irão chorar e brevemente seguir,
Mesmo não querendo que a gente tenha que partir.
A gente vai morrer
E ficarão as vontades,
De ter feito diferente,
Ter tido mais coragem,
De ter estendido as mãos
Com mais solidariedade.
A gente vai morrer,
O ego perde valor,
A birra se desfaz
Juntamente com a dor.
As rixas terão gosto de arrependimento,
A mágoa, um breve momento,
Enterrado junto a nossos corpos, mortal.
A gente vai morrer
E ficam os desejos,
Carnais e matérias,
Espirituais e passionais,
Ficcionais.
A gente vai morrer
E como você tem vivido?
Tem sido um amigo?
Um amor aquecido?
Um bom pai?
Um bom filho ?
Um bom marido?
A gente vai morrer
Você tem sido a mesma?
Mantendo-se firme
Com tua verdadeira beleza?
Menina mulher,
Que muito almeja.
A gente vai morrer
E se quer percebemos
Que o que realmente importa,
É quem somos e o que queremos!