Morador de rua

Vejo carros, vejo gente em minha casa,

Para todos sou ser vão e invisível.

Nesta hora, uma angústia me abrasa,

Eu me vejo um ser humano desprezível.

Mas no ínterim, me vi mais um vivente,

Onde as plagas interrompem meu viver.

Bem no fundo, eu de mim sou conivente,

Migalhando algo a mais para comer.

O meu teto ora é sol e ora é lua,

O meu leito é uma sarjeta sem igual.

De repente a minha mente em mim flutua,

Daí sinto um elemento racional.

Minhas roupas são aquelas de cem anos,

Mas mil anos eu andei com pele nua.

Na desdita eu carrego os meus planos,

Na utopia de um morador de rua

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