TRÊS POEMAS INSPIRADOS EM DRUMMOND

I

Eu não tenho vergonha de dizer

Que gostaria de escrever

Como Carlos Drummond de Andrade.

Mas na realidade

Eu não me preocupo em escrever diferente,

Pois cada poeta escreve

Um pouco do que ele sente.

Confesso até que tem algumas poesias

De meu admirável poeta

Que eu não acho comprometida

Com a beleza aparente.

Mas o que importa

É que ele estava

Realmente, intrinsecamente,

“Preso à vida

E olhava os seus companheiros”.

II

Como a poesia perdeu-se tanto!

Como a poesia se faz tão fria!

Morta, morta, morta,

Na melancolia da tarde fria,

Na frieza deste fino dia...

Já não se toma a poesia

Como uma xícara de café quente,

Como um morno morno leite,

Do peito da própria vaca!

Agora tudo é diferente:

Empacotado, refinado, pasteurizado!

Não tem o sabor do fogo de lenha

Nem o cheiro do curral...

Cadê o telurismo?

O amor à terra natal?

Onde estão os poetas?...

— ouvindo música internacional!

III

Parem a nave, parem a nave!

Pare pare pensamento

Que eu não vou escrever nenhum poema

Que não fale do meu tempo!...

Não, não irei voar,

Para Marte nem para Vênus;

Não irei somar demais

Nem irei multiplicar

Minha vida vezes menos!...

Não, não cantarei,

O tempo futuro!

Não serei de vanguarda,

Nem serei do monturo.

Quero apenas cantar

A cantiga do amor

Moderno e matuto.

Também não serei o poeta

De um tempo absoluto!

Quero apenas cantar,

Ao som da viola,

Uns versos que trago

Na minha sacola.

Carlos não cantou,

Por que cantarei?

Meu tempo é agora,

Ontem não fui,

Amanhã, serei?...

— Antonio Costta