Outrora
De cenho cerrado nasci
No banhado genético banhei-me
Longo e magro, o véu humano vesti
De um corte, rechaçado, aferraram-me
Suicida infante, fetal e elegante
Enrolei-me no cordão - recusei -
Toda vindoura via de chão fumegante
Hei eu de morrer ante ao que não sei
O eclipse daquela sexta-feira
Fez a Lua urrar um cântico
Ninou o pequeno, deixou-o na beira
Do recém formado, abismo quântico.
Sobrosso tomou-lhe a fronte
Chorava ao ver o lúgubre horizonte
Como quem premoniza a agonia
Assumiu o desafio de pronto
Conjecturou cada poema e conto
Qu'auspiciosamente em sua vida haveria
Entregou-se ao colo - tenro - da progenitora
Rafael Arcangelo. O filho da Lua,
Robusto futuro, passado qu'outrora fora
A alma límpida que a vida polua.