Afi(N)ado

Lágrimas ultrajantes residem em m'nhas vistas,

Desdenham de minhas bravatas incansáveis

Choro injuriado, perante os desfavoráveis sonhos saudosistas.

Lembranças cartesianas inatas e transmutáveis

É um choro latente, pela dor, pela gente

Que de minha vida foi-se - Mas esse ultraje,

Fomentado pelo bálsamo dessa dor inerente

Traz a soturna lembrança qu'em minhas vísceras age.

Ao ouvir minha boca desposada proferir axiomas,

Choro mesmo! Descalço e nu, nu e descoberto,

Pois os olhos que fitaram minh'alma falam mil idiomas.

E meu eu analfabeto entende tudo, boquiaberto.

Tenta negar, contudo, a palavra crua

Com a boca seca torna a face para a Lua,

Carinhosamente assente, o silêncio consente.

Convicto velejando, nos vocábulos dela graceja ao vento

Completo, cego ao intento, cede sem nenhum estranhamento

Apenas ouve e chora.

Eis que outrora, desvirtuado juízo

Tornou-se tratado manuscrito desse homem quebrantado

Ouviu na voz da amada o paraíso,

Para consertar seu coração desafinado.

Rafael Arcangelo Vettori
Enviado por Rafael Arcangelo Vettori em 05/07/2024
Código do texto: T8100463
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