Afi(N)ado
Lágrimas ultrajantes residem em m'nhas vistas,
Desdenham de minhas bravatas incansáveis
Choro injuriado, perante os desfavoráveis sonhos saudosistas.
Lembranças cartesianas inatas e transmutáveis
É um choro latente, pela dor, pela gente
Que de minha vida foi-se - Mas esse ultraje,
Fomentado pelo bálsamo dessa dor inerente
Traz a soturna lembrança qu'em minhas vísceras age.
Ao ouvir minha boca desposada proferir axiomas,
Choro mesmo! Descalço e nu, nu e descoberto,
Pois os olhos que fitaram minh'alma falam mil idiomas.
E meu eu analfabeto entende tudo, boquiaberto.
Tenta negar, contudo, a palavra crua
Com a boca seca torna a face para a Lua,
Carinhosamente assente, o silêncio consente.
Convicto velejando, nos vocábulos dela graceja ao vento
Completo, cego ao intento, cede sem nenhum estranhamento
Apenas ouve e chora.
Eis que outrora, desvirtuado juízo
Tornou-se tratado manuscrito desse homem quebrantado
Ouviu na voz da amada o paraíso,
Para consertar seu coração desafinado.