Partes de um todo
Das palavras sem sentido, ações impertinentes, a vontade intensa de silêncio, sem poder ter. Feito brasa, irritava, tudo que gosto por dentro causava, de ânsia incendiava, tantas pessoas ao mesmo tempo falando, os risos... pálidos, rasos, algo vazio e indesejado... conviver. ...
Melhor seria fugir, nos matos, amar os bichinhos que os meus olhos tinham sede de ver. Não era a inconveniência da rotina, os dias amanheciam lindos, todo entardecer, cada um mais afável e bonito! Era o excesso de diferentes vozes, daí a minha fuga para as nuvens lentas no céu, e a visão até do nada, retirava da prisão, viajava na minha fantasia, em toda sua imensidão. ...
Por hora, inevitável era baixar os olhos, voltar para onde eu pisava no indesejado chão... não era pelo espaço enfim, se só estivesse, nem por cada instante que representava a vida, era o nunca ter um momento meu, era o jeito de abordagem, invadidos, eram os dias, a falta de mim, a minha alma há muito, havia partido, levando a minha verdadeira alegria. ...
A poesia era mais que urgente e necessária, o nunca poder identificar-se, com nada nem ninguém do lugar, e em outro mundo poder reconhecer-se, e ao mesmo tempo a grata sensação de nele pertencer! Era aonde tudo se encaixava, apesar da rotina cansativa, a compreensão, a delícia de na volta para casa, a íntegra da palavra vida era resgatada. ...
Difícil foi reconhecer que ao longo dos anos, uma parte da vida não foi minha, onde nem sempre eu pude de fato, eu mesma ser. Juntando as partes de um todo, sei que pouco vivi, quando me dei conta, os anos já haviam passado... só que agora, um riso quase doce, de estranha alegria, iria esquecer a representação de uma gaiola, o caminho para as suas portas abertas, estaria ao meu alcance, sempre na poesia.