Gelatina de Pixe

Gelatina negra de pixe.

Transcreve, ácida, a totalidade

do qu'eu outrora disse.

Gosto de como minh'aura

te namora - e há tanto tempo

Que há tanto tempo

Que inté me sobra

Tempo.

O bastante p'ra que as

cousas que demoram

Realizem-se num pingo

De momento.

M'nhas retinas - antigelatinas

de pixe

Brincam com a visão

Avisam visões, sem intento

O borrão da indecisão

dissipa-se

Com o vento.

Vejo teu olhinhos

Através do pixe

Atravessando o chão

As paredes e o teto

E agora, o qu'eu outrora

Disse, dá de fronte

com teu coração

[maleável]. Molhado.

Cheio d'afeto

Percebi que, melhor do que ter dito

Deveria apenas ter olhado

Que na opacidade das minhas

Vistas, haver-se-ia a única

Mensagem que vale

Ser-lhe entregue

Pois hoje eu me jogo

Esperando qu'ocê me pegue

Pra te olhar com os olhos limpos

Me lavar dos óleos ímpios

Banhar-me apenas na tua beleza.

Cegar meus olhos do

Ego.

A gelatina de pixe eu nego!

Dou-te amor. Mais doce e melhor

que qualquer

Sobremesa.

Rafael Arcangelo Vettori
Enviado por Rafael Arcangelo Vettori em 28/06/2024
Código do texto: T8095700
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