Gelatina de Pixe
Gelatina negra de pixe.
Transcreve, ácida, a totalidade
do qu'eu outrora disse.
Gosto de como minh'aura
te namora - e há tanto tempo
Que há tanto tempo
Que inté me sobra
Tempo.
O bastante p'ra que as
cousas que demoram
Realizem-se num pingo
De momento.
M'nhas retinas - antigelatinas
de pixe
Brincam com a visão
Avisam visões, sem intento
O borrão da indecisão
dissipa-se
Com o vento.
Vejo teu olhinhos
Através do pixe
Atravessando o chão
As paredes e o teto
E agora, o qu'eu outrora
Disse, dá de fronte
com teu coração
[maleável]. Molhado.
Cheio d'afeto
Percebi que, melhor do que ter dito
Deveria apenas ter olhado
Que na opacidade das minhas
Vistas, haver-se-ia a única
Mensagem que vale
Ser-lhe entregue
Pois hoje eu me jogo
Esperando qu'ocê me pegue
Pra te olhar com os olhos limpos
Me lavar dos óleos ímpios
Banhar-me apenas na tua beleza.
Cegar meus olhos do
Ego.
A gelatina de pixe eu nego!
Dou-te amor. Mais doce e melhor
que qualquer
Sobremesa.