DEPOIS DE AMANHÃ
E eis que chegou o depois de amanhã.
Eu sempre temi o depois de amanhã.
O amanhã, não.
Embora como todo amanhã,
incerto, impreciso e indefinido,
o amanhã está tão perto do hoje,
que, ao chegar no amanhã,
ele se torna hoje de novo.
Já o depois de amanhã,
nunca é o amanhã do hoje.
Ele é mais tarde,
após e porvindouro,
ao amanhã que, até lá,
não se tornou em um hoje.
O depois de amanhã
é sempre desconhecido,
ambíguo, dubitável e suspeitoso,
e é por isso que ele é
tão obscuro e misterioso.
Todo depois de amanhã
é como um poema que ainda não foi
percebido, pensado ou sentido,
e, invisível ao hoje, sequer foi escrito.
O depois do amanhã
é a interrogação mais enigmática que existe,
e, à vista disso, é para mim hermético e nebuloso.
E eis que chegou o depois do amanhã,
e, eu nele, continuo vivo.