DEPOIS DE AMANHÃ

E eis que chegou o depois de amanhã.

Eu sempre temi o depois de amanhã.

O amanhã, não.

Embora como todo amanhã,

incerto, impreciso e indefinido,

o amanhã está tão perto do hoje,

que, ao chegar no amanhã,

ele se torna hoje de novo.

Já o depois de amanhã,

nunca é o amanhã do hoje.

Ele é mais tarde,

após e porvindouro,

ao amanhã que, até lá,

não se tornou em um hoje.

O depois de amanhã

é sempre desconhecido,

ambíguo, dubitável e suspeitoso,

e é por isso que ele é

tão obscuro e misterioso.

Todo depois de amanhã

é como um poema que ainda não foi

percebido, pensado ou sentido,

e, invisível ao hoje, sequer foi escrito.

O depois do amanhã

é a interrogação mais enigmática que existe,

e, à vista disso, é para mim hermético e nebuloso.

E eis que chegou o depois do amanhã,

e, eu nele, continuo vivo.

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 28/06/2024
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