Barreiras
Tenho que escrever,
caneta maldita.
Tenho que escrever,
papel maldito.
Vocês não fazem nada sozinhos!
Não há poesia automática,
Autogerada.
Não há talento sem inspiração.
Não há sustento sem dedicação.
Mas tô cansado...
Apesar da cabeça fervilhar,
como caixa de abelha recém cutucada,
como mulher ciumenta provocada,
não consigo transbordar.
Veja se me entende,
Tô vendo letras dançando soltas,
Surgindo em coisas, nas paredes.
Tá tudo ali:
a história do herói, o cheiro da flor,
as cores das ilusões e dos amores.
Mas não consigo escrever.
Se uma máquina pudesse ler meus pensamentos,
Veria um branco eterno para qualquer lado que olhasse,
Veria uma infinita distância, aberta, vazia.
Todavia, também veria
Um ponto preto bem lá no centro,
Que seria difícil até de indentificar,
Seria muito mais difícil nele chegar.
Mas lá, lá ele.
Uma massa concentrada,
Um universo de infinitos universos,
Tanta magia e possibilidades,
Tantas, tantas letras.
Muito maior que a cobertura branca,
Muito maior que essa folha branca,
Muito maior que a caneta.