SENDO UM RIO

Rio seco,

Rio cercado

Com arame farpado,

Rio deserto

De peixes e de homens.

Rio que foi

Balneário natural,

Lugar de recreação,

Roçado de agricultor,

Pastagem para o gado.

Rio de lembranças

Que escorre em mim,

Que me arrasta para o banho,

Nas águas frias da memória.

Oh rio da minha infância

O que fizeram de ti?

De sua mata ciliar,

De suas águas puras,

De seu leito esplendoroso?

Rio que agora

É apenas um fio,

Uma lombriga de água

A serpentear indecisa,

Entre matos e pedras,

Quase sem direção.

Hoje, campo de ambição,

Mina de Areeiro,

Com suas drágeas mecânicas,

Com seu vai e vem de caçambas,

Carregando o novo ouro,

O dia inteiro, a noite inteira...

Mas, o que muitos se esqueceram,

Ou fingem que esqueceram,

O que quase ninguém sabe,

Ou fingem que não sabem,

É que ele continua sendo um rio...

Com sua força colossal adormecida.

- Antonio Costta