Sobre a torpeza
... mas esse é o fato, caro amigo
Chegou o dia há muito intuito, há muito adiado
Chegou como quem chega e desmancha o jardim
No lugar deixa cinzas e flores mortas
Um feito atroz, de gente atroz
Que ignora as ações
E só pensa nos prazeres
Chegou o dia, caro amigo
O dia que não mais se perdoará a vilania
O dia que não mais se vai permitir a ofensa
Um dia diferente dos outros já vividos
Dos outros já lamentados
Meu caro amigo, esse é o fato
A camarilha, como quem se sacia da torpe ação,
Não consegue agir às claras; é preciso dissimular cada passo, cada gesto
Porque a torpeza habita seu coração
Não sente vergonha da dor que causa, ao contrário; se regozija como se anunciasse a conquista do mundo
Uiva de felicidade como ao lobo sobre a carne da presa
É a camarilha; seu ofício é a torpeza
Assim é, caro amigo
Os dias presentes foram brindados sob os auspícios da torpeza
E a camarilha vibrou
Um triste acontecimento
Porém, não muito lamentado
Só adiado
Mas intuito e esperado
A camarilha não desiste
É seu ofício a torpeza
A camarilha lança mão de preceitos morais
Ao recorrer a esse expediente, sacrifica-se a razão, tudo o mais se diluiu
Ela enterra a lógica da razão
Porque se não enterrá-la todo seu castelo de preconceito e vilania se desmorona
Esse é o fato, caro amigo
A camarilha não dorme
E causa dor e sofrimento
Mas isso não a incomoda
E seu mister agir para isso