Viva São João!
Na roça tem de tudo um pouco
Quem não sabe apreciar é louco
Assim dizia Dona Chiquita
Tem arroz doce, canjica
Bolo de fubá, pamonha, curau
Leite quente lá no curral
Amendoim torrado, paçoca
Conversa boa sem fofoca
Tem sempre o velho alegre
com cigarro de palha na orelha
Contando causos de assombração
Tem centelha da amizade
Espraiada por todo rincão
Tem vento que assovia e canta
Derruba as flores da paineira
faz tapete pra enfeitar o chão
Tem lua cheia que mais perto nasce
Feito laranja gigante
Deixa a gente abobalhada
Com os olhos marejados
Tamanha a emoção
E nas noites de lua minguante
As estrelas descem do céu
E beijam a inspiração
À luz de lamparinas e lampiões
O pai faz a seresta
A mãe borda na varanda
As crianças se divertem
Com os vagalumes na escuridão
Tem cheiro forte de terra molhada
quando cai a chuva de verão
Tem pássaros mil em revoada
O belo canto do azulão
A cantoria das maritacas
O canto triste do galo
Ainda na alvorada
Acordando a felicidade no sertão
Tem pomar cheio de frutas
Laranja, tangerina, “amexa”
Jabuticaba, maria preta,
Uva, araticum, capelinha de melão
Tem galinha ciscando,
cocorocando, chocando
botando ovo
Tem pintinho amarelo novo
Seguindo os passos da mãe
Tem arroz e feijão no prato
Tem também o bom trato
Ao homem que trabalha a terra
Co ‘as mãos calejadas e o coração
Tem linguiça de porco no varal
Coalhada e queijo coalho
colcha de retalho sobre a cama
Colchão e travesseiro de paina
Tem gente simples que ama
Sem nada pedir em troca
Tem terço e reza nas palhoças
Tem procissão pelos caminhos
Ave, Ave, Ave Maria
Tem poesia na natureza
Filhotes do João Barro nos ninhos
Risadas gostosas sob o manto das estrelas
Baile no terreirão
Com moda de viola sanfona e violão
Tem milho assado
Batata doce na brasa
Tem caldo de aipim, quentão
Tem fogueira nas noites de São João
Tem café torrado no fogão à lenha
Moído no velho moinho à mão
Passado no coador de pano
Servido com devoção
Na roça nada falta
Maria passa à frente
A fé está sempre presente
Deus todo tempo é bom.
@palmabenvinda