SOLIDANDO
Que solidão é essa que nunca abandona o posto, e nem sai do trilho? Que acordes a regem, fazendo mordiscar o chão e salpicar o ar sem fim? Solidão arraigada, esbaforida, repleta de feridas mal passadas, tão atônita que dá medo. Tanto medo. Solidão de abas toscas e puídas, com voz desarmada e febril, que tenho às costas feito a cruz carregada antes do massacre final. Uma solidão descabelada, de pinças afiadas e colo arredio.
Cheia de galopes maltrapilhos, atolada de demônios alucinados, com desafetos destroçando cada passo, cada assombro, cada confim. Aquela solidão que já estanquei seu suor, sua maldição, seu penhor. A mesma que hoje veio à caça dentro de mim, esvoaçando os meus cantos,
afagando com ternura o que desfiei por todo caminho, sem notar.
Que vá embora rasteiro e não olhe pra trás.
Nunca mais olhe pra trás.