Cálice

Cálice

Entre notas, raios e porões

dancei sob correntezas

falsas do futuro

afino o gume que não cala

e nem chora

canto para meus dons adormecidos

pairo na luz do vaga-lume azul

finco o beijo seco

ceifado pela morte

bebo o silêncio

que rumina sons nus

sugo cores cálidas

de minhas sombras

que despem desejos insanos

Vago nas horas póstumas

das tardes de inverno

caminho nas nuvens

que flertam olhares

sequei a ferida e a incerteza

sinto o cheiro do passado

que sempre vem à tona

abri a boca da janela

do horizonte cinza

Colori o medo na vidraça

que a chuva ainda molha

visto o peito de morfina e luz

aqueço o amor que sonda frio

aferi o avesso da vida

que ainda dói...