O AGORA
Afogo-me na trizteza e na impassibilidade do agora:
Tudo é um misto de tortura e aceitação -
Aceitação por ser fraco - é o que podemos ser,
Brincando de ser deuses, guiando nosso viver
Fugindo da morte, para termos a impressão
De que escolhemos nossa sorte - nosso agora.
Maldita palavra! Que há nela que nos agoura,
Tanto, que fugimos de sua presença? Qual razão
Há que, aos nossos olhos, não podemos ver
Essa aberração molecular? O que busca ter?
Estou sendo arrastado para o acaso, ao não
Da minha boca sem escolha, a toda hora.
Que loucura sobreveio a quem, outrora,
Resolveu batizar esse nome tão pagão?
Esse monstro que ninguém pode abster
De sua presença; transforma tudo ao bel-prazer
E a todos nega veemente seu perdão:
Por que não me deixa e vai embora?
Como posso temer tanto o que não existe?