O AGORA

Afogo-me na trizteza e na impassibilidade do agora:

Tudo é um misto de tortura e aceitação -

Aceitação por ser fraco - é o que podemos ser,

Brincando de ser deuses, guiando nosso viver

Fugindo da morte, para termos a impressão

De que escolhemos nossa sorte - nosso agora.

Maldita palavra! Que há nela que nos agoura,

Tanto, que fugimos de sua presença? Qual razão

Há que, aos nossos olhos, não podemos ver

Essa aberração molecular? O que busca ter?

Estou sendo arrastado para o acaso, ao não

Da minha boca sem escolha, a toda hora.

Que loucura sobreveio a quem, outrora,

Resolveu batizar esse nome tão pagão?

Esse monstro que ninguém pode abster

De sua presença; transforma tudo ao bel-prazer

E a todos nega veemente seu perdão:

Por que não me deixa e vai embora?

Como posso temer tanto o que não existe?

MNC Heterônimo
Enviado por MNC Heterônimo em 21/06/2024
Reeditado em 21/06/2024
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