Perdição Divina
O mundo é apenas um ponto na mente humana,
Os deuses ficariam todos perdidos
nesse caos infinito que os pariu,
Indefinidos entre horror e beleza,
razão e loucura simultâneas,
atravessados pelas flechas e anzóis do desespero,
No cárcere da eternidade que os contemplam,
teriam a morte como utopia suprema,
Mas veriam os grãos infindos da imaginação
se espalhando nos campos do universo,
Florestas de galáxias fantásticas sobrepostas
explodindo vida e destruição,
Em toda sua aurora sombria, sua violenta doçura,
sua compaixão jactante, sua lúdica lucidez,
sua condição dialética, entrópica e paradoxal
produzindo sonhos, magia, milagres
nos terrenos hostis da existência,
no ceticismo brutal da realidade,
no absurdo da total ausência de sentido,
A delicada bravura indômita de ser
na imaterialidade dos acontecimentos
que naufragam naquela ferida rítmica,
Cárcere da finitude dos mestres das utopias,
Câmara de retratos do esplendor da memória,
Berço dos mais belos danos e enganos
e sepulcro de toda sensatez, toda razão,
Ali se destila venenos de ambrosia
que impregna os nossos sentidos
fecundando centelhas quimeras;
As divindades poderiam passar a eternidade
loucas e errantes
no turbilhão de itinerários de nossa mente,
Mas não suportariam um dia sequer
trancadas no quarto efêmero
de nosso insensato coração.