NA INCERTEZA DOS MESES

talvez seja como morrer em junho,

entre outono e inverno,

ser enterrado de terno

e camisa suja no punho.

ou casar-se em abril,

depois do dia primeiro para que não seja mentira,

certificar-se de que a noiva ainda está quente e respira

e tentar achar sentido naquele tão conhecido vazio.

talvez seja como adoecer em maio,

cair de cama no dia do trabalho,

entupir-se de cibalena e chá de alho

e imaginar quão sujo é o sangue no tubo de ensaio.

ou comprar um carro em outubro,

não aquele que viu mas o que deu,

pelo menos estava bom de banco e pneu

e o resto "com o tempo eu descubro."

talvez seja como enlouquecer em janeiro,

afetado pelo mormaço de alto verão,

a ponto de deitar no asfalto, contar caminhão

e imitar a sirene do bombeiro.

ou pedir água em agosto,

com uma sede de nem sei quando,

água boa que não sai nem secando

e que ainda lava o rosto.