DAS SONATAS E QUERUBINS
Quem casa encurrala e seduz os quintais da alma
faz troça dos percalços que os deuses tentam burlar,
faz chacota das missangas que a vida deixa fugir.
É porto aguerrido, forrado de senões,
com franjas alvissarando a fé,
com tropeços escurraçando os gomos do querer-bem.
Casar deixa o tempo bambo, as querelas dor em prontidão,
azucrina as compotas do medo, da redenção,
descortina o que temos de mais dócil e cruel.
Casamento é chão irado, aguçado de gostos proibidos,
suas têmporas esfacelam as pétalas de um doar sem fim,
reluz um desafinado sopro trazendo vida, sem pressa.
Seus passos titubeiam no relento da revoada triunfal,
manda o certo rodopiar atônito até perder o guizo,
resvala as trombetas das retinas do amor sem cessar.
Casar é bom, é laço justo e arredio,
faz arrepiar as rédeas da solidão, das querelas vadias,
deixa o sorrateiro gozo estrebuchar sem rosnar.
Que possa sempre me entreter nos seus suores,
que possa sempre desanuviar numa perplexa decantação,
que possa sempre me render às suas talas, sonatas e querubins.