O BOM DIABO

Meus joelhos nunca se dobraram

frente a autoridade divina.

Nunca passeou por minha boca

nenhuma prece louca.

Jamais buli com água benta,

terços, bíblias ou relíquias.

Deus algum me foi sagrado

ou mereceu respeito maior

do que a sola do meu sapato.

Não sou mais um entre os coitados

que sonham com salvação

ou com uma miserável vida eterna de servidão.

Ao longo da minha existência,

um bom diabo sempre me fez companhia.

Contra a moral dos anjos e santos

ele me ensinou a aproveitar a vida,

me entregar ao efêmero das alegrias,

pois viver é nada.

É coisa breve que logo passa.