Passagem
Há tempos que ouço a voz do tempo
Me pedindo para não parar
O marcapasso no relógio de pulso
O tique-taque em meu peito
Esperando a hora de estourar
Eu às vezes me sinto uma bomba relógio
Às vezes tenho tempo para doar
Eu às vezes me sinto meio avulso
Sem saber o caminho direito
Esperando a hora de chegar
Há noites que converso com a noite
Pedindo-a que não se vá
O dia pintado num quadro da casa
O sol que anoitece a alma
Escondendo o que vem de lá
Eu às vezes me sinto uma estrela fria
Às vezes estrela que cairá
Eu às vezes sinto que o tempo atrasa
E não tenho tempo para calma
Escondendo o que não virá
Há ventos que ouço o assovio do vento
Me pedindo mais paciência
O inverno manifestado em calor humano
O verão presente num coração de aço
Derretendo minha aparência
Eu às vezes me sinto eterno outono
Às vezes não tenho nem coerência
Eu às vezes não quero ter um plano
E me perder no meu espaço
Derretendo essa essência
Há horas que passo olhando a hora
Pedindo-a para seguir
O meu grito contido na minha garganta
O olhar furioso contra o reflexo
Querendo se destruir
Eu às vezes não sei viver sem pressa
Às vezes ansioso demais para sentir
Eu às vezes sinto uma dor que encanta
E, mudo, encaro o tempo complexo
Querendo não desistir