Passagem

Há tempos que ouço a voz do tempo

Me pedindo para não parar

O marcapasso no relógio de pulso

O tique-taque em meu peito

Esperando a hora de estourar

Eu às vezes me sinto uma bomba relógio

Às vezes tenho tempo para doar

Eu às vezes me sinto meio avulso

Sem saber o caminho direito

Esperando a hora de chegar

Há noites que converso com a noite

Pedindo-a que não se vá

O dia pintado num quadro da casa

O sol que anoitece a alma

Escondendo o que vem de lá

Eu às vezes me sinto uma estrela fria

Às vezes estrela que cairá

Eu às vezes sinto que o tempo atrasa

E não tenho tempo para calma

Escondendo o que não virá

Há ventos que ouço o assovio do vento

Me pedindo mais paciência

O inverno manifestado em calor humano

O verão presente num coração de aço

Derretendo minha aparência

Eu às vezes me sinto eterno outono

Às vezes não tenho nem coerência

Eu às vezes não quero ter um plano

E me perder no meu espaço

Derretendo essa essência

Há horas que passo olhando a hora

Pedindo-a para seguir

O meu grito contido na minha garganta

O olhar furioso contra o reflexo

Querendo se destruir

Eu às vezes não sei viver sem pressa

Às vezes ansioso demais para sentir

Eu às vezes sinto uma dor que encanta

E, mudo, encaro o tempo complexo

Querendo não desistir

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 15/06/2024
Código do texto: T8086367
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.