Há poética

Não há nada que a poesia descarte, senão o próprio descarte que sobre ela tentam imputar. Poesia é chama que tudo consome, dos objetos sem vida às mulheres e aos homens. Do lixo ao ouro, do luxo ao nada. Poesia é assim: lembrança desgarrada, brinquedo quebrado, corpo dilacerado, mente desocupada.

Poesia é luz e sombra, vida e morte, azar e sorte, perda e reparação.

E o poeta, dito fingidor, vai assim, bem amiúde, falando de amores e ataúdes, nunca seus, mas sempre na sua presença. Mesmo que sem rima ou sem métrica, há versos! Há poética. Há calor humano, até num verso insano, que não saiba usar mesóclise.