Defunto ambulante

Álvaro,

por você estou agudamente alarmado.

Você acorda — acorda?

Dos vermes renasce,

escova os dentes

e come, vendo um bom desenho.

Depois se encova sob o celular,

que é sua maratona de comédias boas e ruins,

até trombetear a vez em que

seu cachorro vem chamá-lo

para passear.

Você, com o celular em mãos, confere as horas,

nota que está passando das doze,

da sepultura digital se desencova,

põe a coleira calma no cachorro inquieto

e com ele sai.

No retorno,

ao cachorro, da coleira libera.

Você toma banho,

come, com os olhos esquecidos na televisão,

visto que não dá para notícias e reportagens

a menor importância.

Depois volta para o celular

— ao caixão, o finado!

E permanece sepultado,

até vir seu cachorro ressuscitá-lo.

Novamente é hora de passear!

No regresso,

você toma banho,

faz um lanche, vendo seu desenho favorito,

conectado ao café da noite,

conectado a mais uma maratona digital,

conectado ao sono.

Você, na cama, não vai dormir;

vai terminar de morrer.

Boa morte!

Amanhã Deus irá revivê-lo.

Álvaro,

você não estuda

uma ciência

ou uma arte;

nem lê

um livro

ou um poema,

ou uma notícia,

ou um artigo de opinião;

nem escreve

uma poesia

ou uma prosa;

nem escuta

um louvor

ou uma conversa;

nem louva.

Álvaro,

quando sai com seu cachorro,

você trilha as veredas da obrigação,

e não do lazer e prazer.

Em outras palavras: você não passeia.

Álvaro,

você é uma vida morta.

Saia da cova!

Danilo Mascarenhas Bittencourt
Enviado por Danilo Mascarenhas Bittencourt em 10/06/2024
Reeditado em 10/06/2024
Código do texto: T8082976
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.