QUASE MORTO

Não posso saber tudo que quero,

nem ter tudo aquilo que acho que preciso.

A vida é uma queda cega em mil precipícios

onde tudo escapa.

Estou permanentemente em esboço.

Nunca sou eu mesmo

ou idêntico a mim mesmo.

Sou múltiplo e desconjuntado.

Nada me basta.

Minha essência é nada.

Minha natureza o vazio

e meu tempo é quando.

Sou no movimento descendente e urgente do equilíbrio do meu corpo.

Sempre meio vivo, meio morto.

Só sei que respiro

e meu coração

bate torto.

Sou nas encruzilhadas,

pois, transitório entre as coisas,

quase existo

e persisto,

onde desisto

ou quase

já estou morto.