O QUE RESTA DE MIM
já fui germen
já fui broto
cresci forte
subi ao azul
senti-me poesia
com folhas escritas de vento
a embalar flores e frutos
fui abrigo de asas e corações
alguns tatuaram-me amores
fui sombra, fui casa,
fui amiga de todos os bichos
morri nas lâminas
dentes motorizados malditos
sabiam lá quanto poderia viver...
e amar
cortaram, lascaram, serraram
por fim trituraram-me
lançaram-me sobre uma miscelânia
quimicamente pastosa
mexe, remexe, aquece, arrefece...
fui parar a tantas mãos
branca como cal
hoje sobrevivo
num pequeno caderno amarelado
é o que resta de mim
nas mãos de um ser aluado
que adora gravar-me
com as letras dos seus sonhos
no meu tempo
não havia computadores
nem discos, nem pendrives
nem nuvens sem água
senão
hoje talvez ainda fosse...
EU a razar as nuvens
de tronco altivo...
e copa verde vivo...
majestosa!
09-06-2024