O QUE RESTA DE MIM

já fui germen

já fui broto

cresci forte

subi ao azul

senti-me poesia

com folhas escritas de vento

a embalar flores e frutos

fui abrigo de asas e corações

alguns tatuaram-me amores

fui sombra, fui casa,

fui amiga de todos os bichos

morri nas lâminas

dentes motorizados malditos

sabiam lá quanto poderia viver...

e amar

cortaram, lascaram, serraram

por fim trituraram-me

lançaram-me sobre uma miscelânia

quimicamente pastosa

mexe, remexe, aquece, arrefece...

fui parar a tantas mãos

branca como cal

hoje sobrevivo

num pequeno caderno amarelado

é o que resta de mim

nas mãos de um ser aluado

que adora gravar-me

com as letras dos seus sonhos

no meu tempo

não havia computadores

nem discos, nem pendrives

nem nuvens sem água

senão

hoje talvez ainda fosse...

EU a razar as nuvens

de tronco altivo...

e copa verde vivo...

majestosa!

09-06-2024

AlexandreCosta
Enviado por AlexandreCosta em 09/06/2024
Reeditado em 09/06/2024
Código do texto: T8082128
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