o verde quando jovem
Uma névoa fez-se tijolo,
Aberto o vácuo, toda uma vida desenrola-se.
Letras voam, sussurram segredos,
Repousam na janela das nuvens.
Anos passaram, dormência transformada,
Queima, é teu esse fogo que te aquece.
Dobras tuas roupas, vestes-te como se o frio
Ainda sussurrasse em tua boca ventosa.
Quem amou, como amou?
Terminou a noite envolta em desejo,
Fez de seus braços a manjedoura.
Andaste lentamente, regressaste lentamente,
Já estavas em casa, sempre soubeste o caminho.
Armaste-te de respostas, todas
Pelas línguas das árvores, que te conheciam diferente.
Nada comportava tamanha luz,
Tu aberta, com a estrela que te guia nos olhos,
Com o astro que te corrige os passos,
Só a ponta de uma esperança a narrar o desfecho.
Tu conheces a língua que o corredor claro escuta.
A memória volta, sua pústula transformada em flores,
Estendes a mão e fazes dela um carrossel a rodar pelo mundo.
Tudo gira como sabes,
A alegria lhe dá a pedra de ouro,
Fecha os olhos para ser vista por todas as lembranças.
Divide-se entre a noite e o dia,
Com as mãos cheias, apenas os sinais
De que tua vida será longa,
E muitos amores virão e te dirão de encontros.
Enquanto tua noite se expande,
Dizendo que o distante existe,
Quanto mais o tempo passa,
Mais real lhe imprime o sentimento.
Todas as peles te cobrem como o cobertor de uma mãe,
Dizendo-te boa noite, dizendo-te que a mãe te ama.
Teus olhos fecham-se para abrir-se em outra casa,
Onde o quarto é claro e a porta abre outra porta.
O que sabes, em todas elas uma rosa e seu perfume,
Outra cantiga que conhece tuas pernas,
Como descansam as solas dos teus pés,
Como andaste sem medo da vida.
Do acolhimento que as folhas sentem quando brotam do talo,
No chão, aquecidas pelo tempo e depois pelo sol,
Nada abala, embora a vida te confesse o desejo.
Mas antes tens de conhecer o verde que agora brota na relva,
Nas folhas da mangueira, do verde que falo,
Do broto, ainda sem a pedra que lhe tragaria o ventre
somente o verde como jovem, verde.