soltar a âncora

Soltar a âncora,

o medo próximo do chão.

O universo se expande,

toca a superfície invisível,

inscreve o receio no instante.

Atrás das colinas,

rios desemboquem na ribanceira,

a imaginação plantada em noite intemporal.

Na água funda,

não se escreve com o alfabeto do sangue,

a chuva é vertigem das águas sacras.

Desejos proibidos,

à espera de margem,

destronam nossa voz,

perfura a carne,

não somos o que a memória propõe.

Os véus não sustentam,

relâmpago, trovão gritam no céu,

o terror na natureza não pergunta nomes,

devora o pensamento diante do mistério.

A superfície não comporta a crueldade dos deuses,

nem a florada ingênua de cenas terríveis.

Diante do despenhadeiro,

cavernas despertam para um tempo

que nunca recobra de si,

nos empurra ao abismo que tragou a juventude.

A porta como dúvida,

o descanso como peso,

livros da gaveta, receitas, enigmas.

A porta evapora para um mundo inexistente,

tudo é novo no descampado,

sentamos humildemente.

A vida não revela seu segredo,

seduz que a morte seja a comida que a sustente.