a coisa que nos forma
Ouves! Não pode ouvir o que os males espantam
Árvore inscrita na memória enquanto em tua sombra
A silhueta de tua morada nos inflama o desejo, plantações efêmeras
Já destiladas para o amanhã, onde, serena, a vontade
Se esforça para que seja o prado alucinante que nasce em todas as madrugadas,
Ainda que brilhante, não era o presente, já era passado quando
Seu andar escandaloso me calou para a lua de sangue e azeite que nos
Conduzia para dentro da carne, intemporal, silenciosa
E fazia das minhas sombras o artefato onde, estilhaçado, procurava o meu nome.
Sob as sementes estocadas a dor se empurra para o alto, impulso para que o sol nasça
Ainda que em violência, ainda que a ferida se reprima, ainda que reste pouca,
Daquela velha face estiolada drena profundamente da sua esperança.
Sempre fui breve, uma ilhota que se inunda frequentemente das águas profundas,
Não se pode defender daquilo que sua natureza é nos escapar, se fosse água, seria
Óleo, se fosse óleo, água a perder de vista a me dizer que não tem direção já inscrita,
Toda partida é cheia de novidade, e toda estrada se desarma de si depois de caminhada,
Os campos inaugurados, as vertentes aquosas e a relva estendida a forrar a angústia
Carnívora enquanto pomares resolutos, com suas frutas de pecado a nos amar:
Que a boca não saiba desse enigma, pois tua língua bebe o sangue da terra
Para saber mais do gosto das coisas insensatas, embora foi a insensatez que embriagou
Dessa falta de solidez, desse mel cujo gosto já pressente o
Lago de pústula, a aridez escura ascenderá no sepulcro do ventre,
Onde os amados gritam uma dor que é deles, mas também das pedras, dos astros
Em delírios encarnados na imensidão que engana e massacra toda ingenuidade alimentada,
E cada palavra devora a carne para ser ela mesma, condutora da boa nova,
Mas, também, a coisa que nos forma.