outro sonho
A luz explode, teu ventre nos envolve
Nos rios silenciosos da noite,
Na estrada amorosa onde outrora
Demos as mãos, véspera daquela queda.
A vela alumia nossas faces, os pratos refletem
Os olhos que adentram o infinito.
A performance finda, não somos mais
Personagens, mas atores lamentando
O branco que nos tirou o estribilho.
Não era para chorar, embora os acontecimentos
Apertassem a goela por um pote de aventura.
A longa noite, não mais virgem deslocada,
Nossas imagens, minha e tua, boiando, suspensas,
Como se em paz, mas à beira do afogamento.
Anos de devaneios esculpidos com esmero,
E como era deliciosa aquela noite onde a luz
Adentrava a janela e teu corpo escrevia um poema
Que me erguia ao paraíso.
Eu guardaria no bolso mais secreto
Esse abraço noturno, ainda que soubesse do seu enigma.
Desfeito do susto, não nos olhamos como animais
A devorar seu osso preferido,
Sabíamos apenas que desfolhamos para outra vida.
Fechamos nossas portas, e cada um dormiria
Outro sonho, menos extravagante, ainda que extenso.