Norte, sul, leste, oeste
Deprimido sem sentido em busca do Paraíso
Uma pílula um comprimido 'e aí irmão, o que é isso?'
Deixa prá lá risada boba, adrenalina, zorra, morte e vida Severina
Não, não são palavras que amana mas extinto de animais, ademais,
Não, não me venha com canção bela, se você, tão machão, faz donzela 'com dor no coração'
Se fim é que vemos sem demora, tanta gente por aí de cabeça pronta, devore seu livro e jogue fora
Não, não é a fome que mata e ensina é a sede do que ninguém precisa, segue a sina
'ô nordestino deixa disso, sofrimento são de muitos, outros ficam mudo, colarinhos brancos ficaram sujos'
Cachê de ignorantes, salário mínimo frustrante, roubando em flagrante no mercado da esquina, ah Severino figurante!
Um baiano, um fulano, que acredita no homem do ano, espera trabalho, saúde, INSS e cesta básica do sicrano
Sem censura, corre solto inflação, degenerado otimista trabalha em vão para seu café gotejar no pão
Essa realidade mui dolorida estorva esperança que almeja, ver família bem-vinda, assim digna, assim seja, 'um dia Severino saí desta vida'
Um inocente sem sertão, um carente esperando galardão, promessa vazia que dá azia, faz voltar o enxadão prá matar calangão
É visto na esquina segurando documento, imagina foto estampada em livro de registro, digno realengo, coitado vai pedir ao ministro!
Sobe e desce rua no pobre jumento, sua frio desespero, comida se acaba, sem dinheiro, roubar de algum jeito, mau pressentimento
Vai virar marginal, pela rua, entra loja, assalto coloquial, prá comer, prá viver, encapuzado, baleado, deixado prá morrer
Dia sim, dia não, vai se entupindo de terra, reza ao Pai, espera, reza ao santo, que lê o jornal com espanto, se descoberto já era, vai prá prisão, cura de todo mal, filha terá comida não, notícia velha, afinal
Sujou no sangue de outro, perdeu no jogo de bicho, virou ladrão, ogro, mata gente por curtição, capricho
Vende lixo por aí, na escola, na fazenda, troca moeda prá filha comer açaí, uniforme custa caro de moleque cheira cola, sua mulher não se 'remenda', teve mais um bacuri, deflora
Virou malandro, costa quente, joga prá todo lado, virou padrinho, arcanjo, santo, salvação de muita gente
Paraíso, céu, conforto e paz se procura sem parar, dissonante dor, remediar ou então chorar num ritmo farfalhar rah rah rah
Futuro distante mano, só em Deus plano forte, vai te dizer eu te amo, maior amor suplanta morte, eterna sorte, de Severino do norte
Um dia polícia achou casa, tiroteio com criança, vítima e morte cerebral, fossa rasa, sem fiança, xilindró penal
Filha sem comida de novo, sem relógio, sem viagem, virou dama da noite, alegria do povo, faculdade termina com ódio, mundo selvagem
E assim acaba vida Severina, cheio de marra, pus e ferida, de volta a casa, na prisão de calça parda
'deixa disso Severino vai estudar prá gente se virar' mas de que adianta se humilhar, se exaltado nem será ?
O Senhor é meu pastor de uma ovelha desregrada, que rala, rouba, acredita, mata, deixa a senzala, volta em paz prá sertão do nada
Onde um dia não devia ter saído, nem acontecer, abestado viver, nem ao menos ser traído, neste mundo feito cão, não, quero voltar lá pro meu sertão
Do lugar que minha vida vivi, simples gente, comida pouca mas feliz, um dia mereci, quem sabe novamente, seguir em frente, no país, como sempre fiz
Então uma prece vou tecer, Severino retirante meu irmão, não se angustie, nem se mate, anestesie de fé pois a muito por fazer, viva o bom combate
Seja irmão do norte, suba ao sul, desça ao leste, seja centro-norte, ou arrepie no agreste, de céu azul ou pouca chuva no leste
Acredite, vença, lute pelo seu destino, sem limite, seja presença, peregrino, seu futuro colide morte e vida Severino