Ligação
O celular tocou, maconha atendeu, ele sorriu e deu de ombros se afastando de mim, mas algo na atitude dele me incomodou.
Éramos melhores amigos desde a infância e ninguém o faria se afastar de mim apenas para bater papo ao telefone.
O segui até a cozinha, fingi pegar água, o vi mudar de cor, fiz sinal e ele colocou no viva voz…
Era a única voz que eu não queria mais lembrar, aquele timbre, estava chorando, certeza alguém a magoou novamente, ela estava dizendo que mesmo ciente que fora tudo uma maldita aposta, ela o perdoava, pois foi por causa daquilo que ela sentiu-se amada como amou alguém,disse então a frase que eu jamais imaginei ouvir na vida, as palavras que feriram meu coração e meu ego.
Eu te perdoo e a ele também, porque graças a essa aposta idiota eu fui amada por um ano inteiro, mesmo que falsamente, eu senti o que era ter uma alma gêmea e ser cuidada.
Não se preocupe comigo, sei que nunca me procurou por medo, mesmo com meu número escrito na parede do seu quarto, mesmo você tendo jurado não abandonar nossa amizade, eu entendo que preferiu o seu amigo, tudo bem, o xerox vai ser sempre a minha alma gêmea perdida e eu te devo essa.
Fungou um pouco, parecia estar num lugar trancada, sua voz ecoava, eu quis matar e também morrer por ela.
Eu nunca fui amado de tal modo a ser visto como canalha que era e ainda assim valorizado.
Maconha desligou e me encarou um segundo antes de dizer, cara, que merda nós fizemos, ela não merecia.
Eu apenas engoli seco, estava transtornado, dei de ombros, abri a geladeira peguei uma cerveja e sai.
No caminho de casa abri sua página de poesias e lá estava a sua maldita confissão, ela usava um nickname fofo que eu tinha dado e nas primeiras linhas eu lia, aquela maldita xerox que eu tirei e mim mas ainda assim me faz falta, eu pagaria o dobro da aposta e te faria real.
Eu quis ligar, eu sei seu número de cor, eu quis dizer que sentia muito mas eu sou um lixo, apenas dei uma curtida e guardei o celular quando o céu decidiu finalmente chorar por mim.
By Lilyth Luthor