Ideias e máquinas

Não sou um homem-máquina,

desses que consertam motos e bicicletas,

ou carros, vans e caminhonetes,

ou sapatos e sandálias;

desses que juntam com a pá

a terra, o cimento e a água;

desses que usam chave de fenda,

alicate, torquesa,

trena, nível de bolha…

para fazerem apertos,

cortes,

medições…

Sou um homem-ideia,

dos que têm cérebro e coração,

razão e emoção,

pensamento e sentimento,

inteligência e sensibilidade…;

dos que têm carne e espírito,

repulsa e amor,

lamento e alegria,

aflição e paz…;

dos que têm de poeta visão,

audição,

olfato,

paladar,

tato,

e todos os sentidos que evocam poesia.

Sou um homem dos versos,

dos adjetivos imagéticos e sensoriais,

das metáforas, sinestesias, prosopopeias,

dos paradoxos, hipérbatos, hipálages…;

sem olhar vejo,

sem escutar ouço,

rente ao chão, sinto

a natureza, que tranquiliza os urbanos,

a humanidade, que despreza valores humanos,

a própria poesia, que ora é um perfume doce,

ora um estrume ácido.

No centro das máquinas ambulantes

porém mortas,

sou uma ideia ambulante

e decerto viva.

No centro dos não poetas,

sou poeta.

Danilo Mascarenhas Bittencourt
Enviado por Danilo Mascarenhas Bittencourt em 03/06/2024
Reeditado em 03/06/2024
Código do texto: T8077913
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