Ideias e máquinas
Não sou um homem-máquina,
desses que consertam motos e bicicletas,
ou carros, vans e caminhonetes,
ou sapatos e sandálias;
desses que juntam com a pá
a terra, o cimento e a água;
desses que usam chave de fenda,
alicate, torquesa,
trena, nível de bolha…
para fazerem apertos,
cortes,
medições…
Sou um homem-ideia,
dos que têm cérebro e coração,
razão e emoção,
pensamento e sentimento,
inteligência e sensibilidade…;
dos que têm carne e espírito,
repulsa e amor,
lamento e alegria,
aflição e paz…;
dos que têm de poeta visão,
audição,
olfato,
paladar,
tato,
e todos os sentidos que evocam poesia.
Sou um homem dos versos,
dos adjetivos imagéticos e sensoriais,
das metáforas, sinestesias, prosopopeias,
dos paradoxos, hipérbatos, hipálages…;
sem olhar vejo,
sem escutar ouço,
rente ao chão, sinto
a natureza, que tranquiliza os urbanos,
a humanidade, que despreza valores humanos,
a própria poesia, que ora é um perfume doce,
ora um estrume ácido.
No centro das máquinas ambulantes
porém mortas,
sou uma ideia ambulante
e decerto viva.
No centro dos não poetas,
sou poeta.