SAUDADE EM PRETO E BRANCO
Tenho vontade de assistir filme dublado.
Andar na terra molhada.
Comer pipoca feita na panela
e a fatia de bolo
que estava reservada na geladeira.
Não me preocupar com a marca das roupas que usava.
Uma camisa qualquer
para encontrar qualquer pessoa.
Não ter vergonha de falar alto,
Falar sobre tudo
sem saber de nada.
Dos pés tortos
que vagavam
por tortuosos caminhos.
Olhar pela janela
e não ver paisagem nenhuma.
A rua
me esperava depois do domingo.
Fumar um cigarro olhando o mar.
(o mar era um pôster na parede do meu quarto)
Sentir o vento arejar o carro.
Beijar bocas sem nome,
Sentir-se o Fred Astaire
sob as luzes estroboscópicas.
Aos domingos
Ouvir
e repetir
as mesmas histórias.
Queria que minha saudade
fosse apenas uma forma antiquada
de pronunciar a palavra amor.