A CURVA ISÓLITA DAS COISAS PERDIDAS
Todo o atrevimento da manhã que se instaura,
Perfura as frestas com esse amarelo agudo,
Chamado luminosidade e a que chamo: inconveniência.
Permanecesse a noite e as coisas que se ocultam,
Fazendo dessa pantomima um grande baile.
Foi-se tudo.
Por desencanto ou obsolescência natural,
Partiram os que aqui dançavam como podiam
E os que por pura paixão, entre mesuras e afetações,
Tornavam o espaço um anacronismo elegante.
Assentou-se a poeira do tempo sobre as ruinas,
Voaram para longe as partituras dos minuetos.
Fala-se de um tempo onde a noite era saudade,
Mas o que hoje há, é o que o dia diz ser razão.
Desafetos e amores esculpidos na fumaça,
Motivações nobres para combater rimas pobres,
Narcóticos eventuais para matar a melancolia,
Foram todos dar na ausência e na fadiga.
Não se ouvem mais declamações por senhoritas estúpidas,
Arte tão perdida quanto sobreviver à morte que nos busca, todo dia.
E até as marcas de dança nesse chão riscado e agora sem vida,
Irão embora, ficando a terra arrasada, salgada pela mágoa da despedida.