A CURVA ISÓLITA DAS COISAS PERDIDAS

Todo o atrevimento da manhã que se instaura,

Perfura as frestas com esse amarelo agudo,

Chamado luminosidade e a que chamo: inconveniência.

Permanecesse a noite e as coisas que se ocultam,

Fazendo dessa pantomima um grande baile.

Foi-se tudo.

Por desencanto ou obsolescência natural,

Partiram os que aqui dançavam como podiam

E os que por pura paixão, entre mesuras e afetações,

Tornavam o espaço um anacronismo elegante.

Assentou-se a poeira do tempo sobre as ruinas,

Voaram para longe as partituras dos minuetos.

Fala-se de um tempo onde a noite era saudade,

Mas o que hoje há, é o que o dia diz ser razão.

Desafetos e amores esculpidos na fumaça,

Motivações nobres para combater rimas pobres,

Narcóticos eventuais para matar a melancolia,

Foram todos dar na ausência e na fadiga.

Não se ouvem mais declamações por senhoritas estúpidas,

Arte tão perdida quanto sobreviver à morte que nos busca, todo dia.

E até as marcas de dança nesse chão riscado e agora sem vida,

Irão embora, ficando a terra arrasada, salgada pela mágoa da despedida.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 02/06/2024
Código do texto: T8077010
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