TEMPERANDO
Queria entender melhor o meu tempo,
não aquele tempo tosco, surrado, do avesso,
mas o de ancas reluzentes e ar gentil.
Tempo boquiaberto diante das molecagens da vida,
de olhar acetinado, farto de quereres e imantares.
Aquele tempo de gosto perfumado e pele sábia,
com caminhar desapertado e voz que dá gosto acolher.
Tempo de alma acudida, sem sombras nem querelas,
espreitando a chegada do vento com alegria,
atracando no bojo o que o mundo tem de mais belo.
Tempo florido, afortunado nos sonhos, voraz no entender bem.
Um tempo que a dor não relou, que o medo só percebe de longe.
Tempo cheio de laços e porções de alfazema.
Esse tempo que Deus deixa guardado quieto,
feito talismã do mais poderoso untar.
Tempo que agora consigo abraçar, arejar, entender.
Pra ficar feliz como nunca fiquei até então.