Cármen

Ela nasceu Maria.

Foi o nome que o velho Pedreira lhe deu.

Mas o pai se esquecera da recomendação,

Que a menina devia ser Cármen.

O velho entristeceu-se porque queria Maria,

O nome de Nossa Senhora,

A mulher mais pura, a mulher mais poderosa.

Conformou-se e disse assim:

– Chamem ela de Cármen. É bonito também...

E Maria foi Cármen a vida inteira.

Para as filhas, para os sobrinhos, para os irmãos, para os amigos,

Para toda gente que admirava os bordados caprichados de dona Cármen,

Para quem a via nas costuras e nas agruras,

Para a gente que se enternecia com o amor de dona Cármen pela filha downzinha,

Para quem gostava daquela senhora de gênio forte, que às vezes ficava brava, mas se reconciliava com facilidade.

Quando se casou, os presentes acharam que estavam na cerimônia errada, quando o padre uniu Maria ao marido amoroso. Não, não tinha erro. Pro Cici o mundo era Cármen Maria, ou Maria do Carmo, ou Maria Cármen. Ele estava lá preocupado com nomes? Queria era ser gentil pra ela e lhe dar uma filha.

Depois de noventa e quatro anos, lá na despedida, no último encontro, teve gente que procurou a Cármen e achou a Maria. As duas eram uma pessoa só....

É belo ter dois nomes e uma única personalidade...