Um poeta no banco
Sentado em um banco de madeira
debaixo de uma árvore,
à beira de uma estrada de chão,
posso ver, escutar e sentir
uma poesia colorida, sonora, aromática e leve.
Minha mão esquerda está apoiada
em duas madeiras mornas,
separadas por uma fenda fria
(assim como todo o engenho do banco).
Minha mão direita está apalpando
um parafuso frio e enferrujado,
engasgado por uma porca descascada.
Quem construiu este banco?
Quem parafusou toda esta madeira?
A pessoa que fez esta obra engenhosa
é afável?
Ou é mesquinha?
Uma luz branca puxa meus olhos
para o sol no horizonte.
Fico inteiramente cristalizado,
vidrado na esfera de fogo,
que chamusca minhas interrogações,
tragando-as totalmente.
Se à minha direita vier alguém
andando na estrada,
contemplará um vulcão branco
em erupção amarela, laranja e vermelha.
E se tiver alma de poeta,
arderá de fascinação.
Além do mais verá a tal árvore,
cujas folhas estão sarapintadas de vermelho.
Por ventura me verá no banco?
Apenas o banco.
Ali não mais estou.
Aqui já estou.
Ardendo de fascinação estou.
Que alma de poeta tenho
dizer não preciso.
Sou um deus, um mito, um personagem.
Enquanto deus, posso estar no banco,
na estrada
e onde quiser.
Enquanto mito, tal qual óleo vegetal,
borbulho na frigideira da contemporaneidade.
Enquanto personagem, um fogo vulcânico,
magnetizando seus olhos, caro leitor,
eu sou.