Pôr do sol no interior

O sol era um branco ardente,

que ampliava uma luz amarela,

a qual se alargava em disco

e tentava tampar todo o céu.

Ela, não obstante, guardava uma surpresa:

uma explosão de luz que manchou de laranja

as nuvens que desenhavam no telhado do céu

um forro laranja, marrom e cinza.

O laranja, longe de mim, perto do sol,

o céu branco aquentava.

O cinza, longe do sol, perto de mim,

o céu azul resfiava.

O marrom, entre mim e o sol,

era uma fase de transição

do laranja para o cinza,

do quente para o frio.

Depois da erupção de luz,

o sol arrojou um imenso crepe chiffon laranja

sobre um vasto negrume arborizado,

dentre o qual saía uma névoa branca,

que escorria deitada

tal qual um rio de nuvens abaixadas,

que ia fendendo o seio de toda a floresta.

Colérico, o pujante sol — Imperador do dia —,

escaldava o cume das montanhas negras

e largas, cujos confins ofuscavam ocultos

à direita por uma planta

e duas árvores à esquerda.

A planta à direita era toda enfeitada

de flores vermelhas,

que, no jardim de infância

— tal qual meninas vestidas e perfumadas —,

ao furioso sol, abriam-se castas e delicadas

com cólera de ternura e afeto.

As árvores à esquerda eram dois mistérios:

uma delas era uma senhora feita,

que, sabida dos artifícios e audácias do sol,

apontava suas folhas negras

— suas efusões de afeição —

para o céu, que era uma moderação azul;

a outra era uma senhorita prematura,

que, embora disciplinada pela senhora feita,

apontava suas folhas negras

— como quem dispara seus dardos de paixão —

para todos os lados.

A cancela negra e fleumática,

situada no cerne dessa sociedade vegetal,

fechava a entrada

e a saída de um recinto rural.

Danilo Mascarenhas Bittencourt
Enviado por Danilo Mascarenhas Bittencourt em 01/06/2024
Reeditado em 05/06/2024
Código do texto: T8076270
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