Pôr do sol no interior
O sol era um branco ardente,
que ampliava uma luz amarela,
a qual se alargava em disco
e tentava tampar todo o céu.
Ela, não obstante, guardava uma surpresa:
uma explosão de luz que manchou de laranja
as nuvens que desenhavam no telhado do céu
um forro laranja, marrom e cinza.
O laranja, longe de mim, perto do sol,
o céu branco aquentava.
O cinza, longe do sol, perto de mim,
o céu azul resfiava.
O marrom, entre mim e o sol,
era uma fase de transição
do laranja para o cinza,
do quente para o frio.
Depois da erupção de luz,
o sol arrojou um imenso crepe chiffon laranja
sobre um vasto negrume arborizado,
dentre o qual saía uma névoa branca,
que escorria deitada
tal qual um rio de nuvens abaixadas,
que ia fendendo o seio de toda a floresta.
Colérico, o pujante sol — Imperador do dia —,
escaldava o cume das montanhas negras
e largas, cujos confins ofuscavam ocultos
à direita por uma planta
e duas árvores à esquerda.
A planta à direita era toda enfeitada
de flores vermelhas,
que, no jardim de infância
— tal qual meninas vestidas e perfumadas —,
ao furioso sol, abriam-se castas e delicadas
com cólera de ternura e afeto.
As árvores à esquerda eram dois mistérios:
uma delas era uma senhora feita,
que, sabida dos artifícios e audácias do sol,
apontava suas folhas negras
— suas efusões de afeição —
para o céu, que era uma moderação azul;
a outra era uma senhorita prematura,
que, embora disciplinada pela senhora feita,
apontava suas folhas negras
— como quem dispara seus dardos de paixão —
para todos os lados.
A cancela negra e fleumática,
situada no cerne dessa sociedade vegetal,
fechava a entrada
e a saída de um recinto rural.