Traidor

Ao final resta a mão

Que não acena ou afaga

Nega com força e apaga

Toda forma de compaixão

Aponta como a um ladrão

Semeando dor amarga

No olhar há uma secura

Pouco de nojo com indiferença

Trata o ser como uma doença

Dessas que não tem cura

Desvia o rosto, finge loucura

Expurga a pobre presença

Fecha a porta e silencia

Fala como quem fala à porta

Desprezo e raiva que corta

Talvez esqueça algum dia

Mesmo que ainda reste fria

A lembrança da palavra morta

E o fraco mantém sua dor

Sem que isso jamais importe

Não é destino nem sorte

É a vontade do ser superior

De que seja eterno traidor

De que rogue por sua morte

Torna verdade uma mentira

E no espelho só se vê veneno

E aos poucos o coração pequeno

Bombeia fel, rancor e ira

Na imagem do mal se inspira

E puxa os anjos para o sereno

Nem trinta moedas de prata

Podem comprar um novo peito

E se errou por ser imperfeito

Clamou por um tiro que mata

Mas preferiu gravar a data

Na carne e alma do sujeito

E então guarda seu calor

Fecha-se em sua masmorra

E agora que o tempo escorra

É a revanche de seu interior

De que seja eterno traidor

De que rogue para que morra

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 01/06/2024
Código do texto: T8076184
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