Traidor
Ao final resta a mão
Que não acena ou afaga
Nega com força e apaga
Toda forma de compaixão
Aponta como a um ladrão
Semeando dor amarga
No olhar há uma secura
Pouco de nojo com indiferença
Trata o ser como uma doença
Dessas que não tem cura
Desvia o rosto, finge loucura
Expurga a pobre presença
Fecha a porta e silencia
Fala como quem fala à porta
Desprezo e raiva que corta
Talvez esqueça algum dia
Mesmo que ainda reste fria
A lembrança da palavra morta
E o fraco mantém sua dor
Sem que isso jamais importe
Não é destino nem sorte
É a vontade do ser superior
De que seja eterno traidor
De que rogue por sua morte
Torna verdade uma mentira
E no espelho só se vê veneno
E aos poucos o coração pequeno
Bombeia fel, rancor e ira
Na imagem do mal se inspira
E puxa os anjos para o sereno
Nem trinta moedas de prata
Podem comprar um novo peito
E se errou por ser imperfeito
Clamou por um tiro que mata
Mas preferiu gravar a data
Na carne e alma do sujeito
E então guarda seu calor
Fecha-se em sua masmorra
E agora que o tempo escorra
É a revanche de seu interior
De que seja eterno traidor
De que rogue para que morra