Era uma vez...
Era uma vez um poeta
Que escrevia a lápis
Feliz, o grafite se deixava gastar
E o lápis se permitia apontar
Pelas mãos pantaneiras
O poeta aguçava a ponta e riscava o chão
Cantava pedras, insetos, inutensílios
Dizia das desimportâncias. Importante
Aos olhos de quem reconhecia o tesouro da formiga
Fazendo nascentes e manhãs
Imprescindível na visão
De quem entendia o dialeto das águas
Das árvores, dos sapos, enfim, de tudo
Que não se mede nem se vende.
Era uma vez um poeta de terra,
Das terras do seu quintal maior que o mundo
Era uma vez, eternamente, Manoel de Barros.