ALÉM DA REVOLUÇÃO POLÍTICA E CONTRA TODA MODERNIDADE

Os que querem um outro tipo de sociedade

não se entorpecem com a erudição inútil dos acadêmicos,

não se embriagam com vagos tratados

destinados a iniciados,

não buscam a arrogância dos iluminados,

nem o discurso fácil e populista dos políticos e seus partidos

que, acima de tudo, amam o poder e o Estado.

Os que querem um outro tipo de sociedade

não esperam aplausos,

nem impõe caminhos e soluções milagrosas.

Não vendem como futuro nenhuma moral ou ideal sagrado.

Apostam, ao contrário,

no anonimato de uma multidão furiosa que inventa a si mesmo em sua própria ação formando o coro dos marginalizados.

Os que querem um outro tipo de sociedade

esperam superar o dia de hoje e sempre,

destruir velhos modos de existência,

eliminando a opressão dos poderes, hierarquias e disciplinas que cotidianamente

adoecem a vida.

Os que querem, com toda sinceridade, um outro tipo de sociedade

sabem o cruel limite de toda mudança,

a restauração que subverte a revolução e desfaz a esperança.

Não haverá, afinal,

um outro tipo de sociedade,

sem a ousadia da travessia,

o desafio da longa agonia

do parto de uma outra forma de vida.

O inédito acontecimento

de um dia inteiramente outro,

profundamente novo,

além do humano, do tempo e do mundo,

é um evento que terá lugar no fundo de nós e através das próximas gerações.

Um outro tipo de sociedade

nascerá, afinal, da recusa do progresso

e sobre as ruínas da modernidade

como um grito de reconquistada natureza e de liberdade

além do bem e do mal.