POETAS INEBRIADOS

Já na sexta, tirei a rolha

De um belo vinho chileno.

Com ela, removi o peso

De uma dura avaliação que fizera.

Aprovado na prova,

Provei, inebriado, o vinho.

O aroma robusto invadiu o ar,

Misturando-se ao alívio da conquista.

Cada gole, uma celebração,

Cada nota, uma lembrança

Do esforço e da superação.

O vinho, em sua taça de vertigem,

Desnudou-se em meus lábios,

Dizendo-me coisas ininteligíveis,

Como a cerveja de Zé Maria,

Que acaricia o ventre e embriaga com seus cheiros.

Saravá, Zé Maria,

Que a vida nos brinde sempre

Com momentos de vitória,

Copos de cerveja, cachaça e taças de vinho.

01.06.2024

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(Poema de Zé Maria que faço referência):

A quinta se me chegou já desacamado, feriandando, mas toda esquisitada, desmovimentada, um verdadeiro desbrio. Percorri a cidade com olhos de ave de rapina. Não vi gente, pessoas ou amigos... a vida ainda dormia em camas frias, em todos os bairros, em todos os lugares, vias e vielas... De repente, vi ela! Deu-me um calafrio. Perdi a fala, o jeito e o juízo. A rua se estreitou, eu olhei para ela, ela também me olhou com seus olhos de escuro vidro. Cheguei ao costumeiro copo sujo, um arrepio tinhoso se me subiu cacunda acima, falei no rompante: – Que que é isso, meu amigo? Larga disso, destampe logo este seu poemeuzinho! Digo, uma bem gelada, né!

Uma cerveja sensível

A cerveja chega branca,

aos poucos, toda tesa,

e se desnuda na mesa.

Com ela me alegro,

com ela me confesso,

com ela me deliro,

mudo,

um delicioso perigo.

Ela, em copo de vertigem,

em linguagem de lábios e línguas,

diz-me coisas ininteligíveis.

Acaricio-lhe o ventre,

unto-lhe o umbigo,

perco-me em suas entranhas,

viajo-lhe em seu todo vidro.

De teu gargalo da vida,

embriaga-me com teus cheiros,

deleita-me com tua pele acre,

sem pelos,

arabescos infinitos.

Faço-lhe coisas desconhecidas,

acordo-lhe os opacos ouvidos

com acordes imaginários,

movimentos binários,

ligo-lhe à vitrola da vida.

Os olhos dizem,

o coração quente,

a respiração viva

e o dia se me passa como uma brisa.

Zemaria Madureira