amor real
Intrépido, ainda que desvestido
De qualquer demonstração, sinto
O peso que reverbera da noite, os
Anos nada são do que um grande
Sulco por onde a memória escorre.
Poderia ser sangue se a angústia
Não gritasse tão alto. Meus olhos,
Durante horas, habitam tua pele,
voo rasante que vislumbra o calor
dessa fertilidade translouca e despudorada,
Que, estendida no tapete do espaço,
A graça mais se inscreve, e a vida
Passa em teus poros. Sinto-os como
Se uma floresta de flores abrisse
Suas pétalas, e tu és linda e sou
O homem que esbraveja a existência
Com a alegria, embora não me deixe
Consumir por sóis severos que estraçalham
O peito de qualquer um que ama. Teu corpo,
Um planeta em constelação, e eu,
Teu satélite a circular, perplexo, tua
beleza, formas sinuosas, aquosa silhueta
me arrastar para o mar, dolorido e profano.
Ainda que te Beije e te ame, ainda que tenha o coito
A metáfora mais imediata, tu és distante porque não és
Eu, é outro astro que, talvez, circule outra
Estrela a não precisar de ti. Eu preciso, e como
preciso, porque é do poeta essas coisas! quando
Estou nessa queda tangente, sou mais lívido e destemido,
E tenho um caminho já consagrado. Não dizem que amor
é assim? bem assim! Uma aproximação apenas suficiente para
Sufocar a solidão e não o amado. Assim, posso dizer que te
Amo, que tu e desejo são facetas complementares
Que me fazem saber da vida alegria e bondade.