elevação
Elevaste-te sobre a relva,
teus olhos, testemunhas. faróis ofegantes,
não descobrem a palavra que acalmaria
tua sede na solidão definitiva: um vácuo
onde o tempo se desfaz e a face das coisas
são faces como a árvore é uma árvore.
Sobre a pedreira abandonada, a vergonha,
curvada pelo medo, esculpida,
torna-se mancha escura na vontade.
Mesmo concentrando esforços,
nem todo mar acolhe navegantes,
devaneios e nevoeiros arrancam
de teu ser a passagem estreita,
enquanto te sufocas buscando
o templo entre montanhas,
cuja verdade não reside em celeiros
repletos ou no cetro que prometeria
completar-te, trazendo suspiro
e leveza na estação das chuvas.
Não, não seria mais do que mover-se
o capricho do espírito, ainda que
te pareça previsível.
Assim, caminharás livre sobre a relva,
mesmo que desbotada ou ressequida,
sob a frieza do inverno.